segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Visões contraditórias?

Na mira das presidenciais

Nos últimos tempos temos sido forçados a ouvir dizer diariamente pelos nossos governantes ser essencial à governação exercer controlo sobre os números, os índices, as percentagens, a capacidade financeira, as contas públicas, os juros e o já célebre défice externo.

O primeiro governo de Sócrates, pode dizer-se, viveu da explicação do défice e para o défice, com um pequeno período de congratulação pela descida do mesmo abaixo dos também famosos três por cento, ao qual se seguiu, como todos sabemos, a presente crise financeira mundial que arrastou todas economias para a depressão e fez subir de novo esse nosso défice para os actuais mais de oito por cento.

Há poucos dias atrás o Presidente da República, na sua mensagem de ano novo, voltou a mostrar preocupação pelo controlo das contas públicas, designadamente desse tal défice, a par da necessidade de atendimento e controlo de um outro indicador, o do desemprego sob pena do perigo de explosão social.

Contudo, Manuel Alegre, com disponibilidade anunciada a (re)candidato a Presidente da República em Portimão, terra de outro ex Presidente da República poeta, Teixeira Gomes, apresenta-se sob o signo de outra politica que defende dever ser praticada no Palácio de Belém.

Não quer saber de números, não quer saber de orçamentos, de défices, de contabilidade. Não pretende, diz, ser contabilista e interferir nas contas do Governo.

A ser assim, por um lado, não se percebe porque o PS não ampara e apoia esta disponibilidade manifestada, a meu ver, desde o dia das últimas eleições presidenciais. Aliás, mais parece demonstrar enorme contrariedade a esta recandidatura. Por outro lado, tal discurso vai além do alcance de outras expressões proferidas por Presidentes da República, como sendo a célebre frase “há mais vida para além do défice” proferida pelo anterior Presidente.

Este discurso pode gerar um sinal público forte de que a necessidade que o Governo tem de implementar diversas medidas do desagrado da população não é assim tão urgente nem tão indispensável, agregando à sua volta um coro de protesto contra as mesmas.

De facto, que pretenda exercer o cargo, caso seja eleito, virado essencialmente para a cultura, ou não fosse também poeta, é de todo legítimo.

Mas, ser Presidente da República exige, seguramente, ser mais do que isso. Apoio moral a população precisa, mas não será suficiente por muito tempo. A realidade actual passa, forçosamente, por números, por índices, por estatísticas, por ser contabilista.

Sem comentários:

Enviar um comentário