quinta-feira, 14 de agosto de 2014

No Silêncio Castrense


Em pleno Agosto, dias 12 e 13, o exército português, sem chaimites, sem armas em punho, sem capitães, sem cravos nem rosas, apenas com camiões e o apoio discreto da GNR e por ordem do Governo, deu apoio logístico a outra revolução: retirou os processos e o mobiliário do tribunal judicial de Castro Daire, transportando tudo para Viseu, à semelhança do que fez com outros tribunais situados em localidades do interior do país.

A tudo isto assistimos com a maior tranquilidade e serenidade, num total silêncio que já nos é característico, vá-se-lá saber porquê, quando assistimos, acto após acto, à retirada dos serviços públicos que já estiveram em funcionamento na sede deste concelho.

Desta forma, dando algum trabalho a um sector cuja justificação para existir é cada vez menor no país atendendo às funções que lhe têm sido atribuídas e à capacidade militar portuguesa, mas cujo Orçamento do Estado, ou seja, nós, sustenta(mos), lá esvaziou o Governo, como prometera, o tribunal de Castro Daire outrora construído ali bem perto do também antigo pelourinho, símbolo também ele de outros tempos, de outros hábitos e costumes, de outra forma de aplicar a justiça.

Exemplo de que o povo já não é quem mais ordena, se é que alguma vez foi, é este. Certamente, um mau exemplo de governação, exemplo de que não se governa este país tendo em vista o povo e o território, mas sim grupos económicos cujos interesses se sobrepõem à necessidade e ao dever de governar em favor de todos.

Exemplo dos tempos que correm, ou tão só continuação daquilo que sempre foi o exercício do poder ao longo dos tempos.

O Tribunal outrora construído e apetrechado pelo Governo de então, foi agora esvaziado de conteúdo e de funções pelo actual Governo, parecendo ter até apoio de muitos sectores da sociedade para esse efeito, designadamente locais, que parecem ver neste acto apenas prejuízos para alguns profissionais do ramo instalados na localidade.

Mentalidades que, na verdade, talvez justifiquem o nosso silêncio, esta atitude de pensar ser bom para mim o que não o for para um outro qualquer.

Talvez por isso os nossos vizinhos ficaram, para já, com os seus tribunais. Castro Daire vai queixar-se para Viseu.

Não era este tipo de evolução social que eu, pessoalmente, gostava de ver concretizar-se neste pobre concelho do interior do país. Mas, como em tudo, é a maioria nacional que decide e as minorias locais que sofrem.