terça-feira, 22 de novembro de 2011

Greve Geral

Sim.

Mudam-se os tempos, mudam-se os valores, os direitos e os deveres, costuma dizer-se.

Neste momento é interessante tentar perceber os motivos da próxima greve geral anunciada para o dia 24 deste mês de Novembro pelas duas centrais sindicais portuguesas e às quais se juntam outras organizações sociais de diversa índole.

Durante a vida desta nossa democracia assistiu-se a muitas greves tendo quase todas elas por objectivo reivindicar o aumento salarial ou melhores condições de trabalho, fosse na redução do horário de trabalho, fosse no aumento de períodos de descanso, fosse no aumento de subsídios, etc.

Hoje, procuram com esta greve promover a indignação contra os anunciados cortes salariais, aumento do período laboral, corte nos dias feriados, entre outros, na expectativa de impedir que todas essas medidas anunciadas, ainda que a título temporário na maior parte delas, se concretizem, pese embora não acreditando na satisfação desse objectivo face à situação financeira e económica do país e dos seus parceiros europeus.

É caso para dizer que se até aqui foram os governantes que mais interessados no voto do que na capacidade produtiva do país foram escondendo sempre a real situação económica e financeira do mesmo, aumentando o endividamento externo para fazer face às medidas populistas e eleitoralistas, dessa forma mentindo à generalidade dos portugueses, agora são as centrais sindicais que, perante esta situação catastrófica, procuram não se deixar ultrapassar, promovendo greves e protestos de indignação apesar dos seus dirigentes saberem, melhor do que nós, das dificuldades senão mesmo impossibilidades em satisfazer as suas pretensões, empurrando a maioria dos portugueses para uma "luta" social inconsequente oposta às reais necessidades da nação.

Mas, a verdade é que, se direito à indignação existe, legítimos e oportunos motivos para o seu exercício neste momento também são muitos.

Assim, se num período de falta de rendimentos, quer em termos de receitas fiscais, quer em termos de ordenados, é preciso recorrer a cortes salariais de toda a população e designadamente daqueles que menos recebem apesar de trabalharem ao longo de toda a sua vida, é manifestamente injusto que se permita pagar reformas mensais superiores ao ordenado anual da maioria dos portugueses, reformas essas atribuídas a muitas pessoas pelo exercício de certos cargos publicos, aos quais se candidataram, durante alguns anos, designadamente, dez, doze ou ainda menos.

E, se as grandes alterações sociais se desenvolvem num clima de insatisfação pelas injustiças cometidas por quem governa, é este, sem dúvida, momento de reflexão por parte dos governantes para poderem corrigir aquilo que esta jovem democracia permitiu fazer a muitos que passaram pelos altos cargos do Estado, exercendo cargos executivos e também o poder legislativo que permitiu se acumulassem diversos privilégios ao longos destes anos com grande desequilíbrio social num momento como este de recessão económica e falta de financiamento exterior.

Momento este, igualmente, de reanálise dos contratos de gestão e financiamento de diversos equipamentos sociais e obras públicas por forma a impedir que os euros que se cortam a quem mais falta fazem se encaminhem em grandes caudais de milhões para gestões e contratos de financiamento menos rigorosos, senão mesmo ruinosos para o interesse geral do país.

Por tudo isso, que esta greve, com maior ou menor adesão, sirva de motivo de reflexão sobre a manutenção de diversas medidas manifestamente perversas ao ideal da democracia.  

terça-feira, 1 de novembro de 2011

De Primavera em Primavera


O tempo que não se escolhe.

De Cabril a Almofala, de Gosende a Mões, a última primavera que por toda a árvore castrense se estendeu, em vez de fazer florir, dando rosas e bons aromas, depressa desapareceu, deixando as folhas cair, num sinal de outono e inverno precipitados, como se verão não houvesse, ainda mesmo sem a rosa abrir, ficando os montes escurecidos, queimados, ressequidos, por um vil fogo ateado ardidos.

Cabeça oca, mente malvada esta, que a enxada colocou à sesta, a mesa fez à sombra e pão mandou servir, sem antes cuidar do campo de onde o mesmo havia de vir.

Satisfeito e saciado, já tal mesa não lhe servia, nem a sombra o acolhia, cansado da rotina, deita pés ao caminho na esperança de que logo ali ao lado algo ainda melhor o esperava.

E, num pensamento extravagante, pronto como viajante, apressa-se a ir ao som do vento cantante, tudo deixando para trás, qual forma de vida desprezível e descartável.

Fora adiante, tonto e embriagado, sem razão ou outro motivo que não o desejo de novos encantos prometidos, repetidamente badalados, do sino da igreja, do altifalante sonoro, ou ao ouvido soprados.

Tudo seria melhor. Tudo seria fácil. Tudo estaria acessível a todos quantos acreditassem. Era simples, tornou-se mágico, era só ouvir, crer, dar e confiar.

Mas, chegada a primavera, com grande festa recebida, as flores não desabrocharam, as folhas enrolaram e, depressa, criando bicho no seu interior, mau cheiro começaram a exalar, caindo apodrecidas, num chão enlameado pelo aguaceiro que, teimosamente, permaneceu sobre este lugar.

Sem pão e ao frio, num inverno doentio, mil vezes rogou pelo tempo em que a mesa à sombra colocada o já não satisfazia, mas de nada lhe valeu. Clamou por todos quantos em coro à sua porta antes apareceram e de promessas encantadoras os ouvidos lhe encheram. Mas ninguém o socorreu.  

Triste Primavera que não deu lugar ao verão, o outono antecipou e o inverno prolongou.

Por vezes costuma ouvir dizer-se, em tom de desabafo, que se nós mandássemos no tempo….
Que seria? Que faríamos com ele? Seriamos capazes de o gerir da forma mais conveniente?