Começa agora a ouvir-se com maior
frequência que, afinal, o nosso país é um país pobre, sem ouro e
sem petróleo, razão pela qual não se pode pensar que é possível
viver-se à rica e à francesa.
Após esta situação económica
dramática se ter concretizado e instalado com carácter duradoiro,
passando de "velho do Restelo" a uma realidade palpável,
já se admite publicamente que é um "roubo de Estado"
governar hipotecando os rendimentos das gerações futuras nos termos
em que foi feito nas últimas décadas de governação.
Agora, que não há dinheiro para pagar
os serviços mínimos, nem por parte do Estado, nem por parte de
muitos portugueses, lá se vai deixando ficar a opinião de que
muitos se aproveitam das benesses que os governantes vão dando tendo
em vista o voto em eleições futuras, mesmo que com falsas
declarações obtendo aquilo a que não teriam direito se prestassem
as informações de forma correcta.
Mais. Agora que todo o nosso rendimento
não chega para pagar a dívida e o esforço da dívida (entenda-se,
juros que a mesma obriga a pagar), já se diz com convicção que não
é possível ao Estado continuar a dar subsídios sem receber nada em
troca e que a ideia dos direitos adquiridos ser algo de irreversível
está totalmente ultrapassada.
Enfim. É caso para dizer que já não
somos nós, políticos, dirigentes, intelectuais, simples
trabalhadores, que definimos os traços de uma qualquer realidade,
mas sim esta que se impõe a todos nós, mostrando-se tanto mais
rebelde quanto mais a queiramos amarrar.
E é neste campo de ilusões, onde o
que ontem era impensável, hoje já é realidade, que temos de nos
mover, que tomar decisões, que agir em função de uma perspectiva,
seja própria ou adoptada mas que, em qualquer caso, não sabemos se
se concretizará.
Todas estas razões nos levarão a
mudanças sociais que até há pouco tempo consideravamos, ou pelo
menos muitos dirigentes políticos e sindicais consideravam ser
inadmissíveis.
Talvez por isso se ouça falar também
na necessidade dos governantes olharem para esta nossa realidade
económica com a humildade necessária e que se impõe por forma a
aliviar os sacrifícios a que estão sujeitos os portugueses na sua
grande maioria.
De facto, não basta pensar nos muitos
séculos de história do país, nas crises que já ultrapassou, nas
revoluções que conseguiu ganhar, nos caminhos novos que apresentou
ao mundo.
Necessário será usar todo o potencial
humano tendo em vista o contributo individual e de todos na
reconstrução social sempre inacabada, mas que só com o contributo
sério e contínuo de todos poderá prosseguir no sentido que
desejamos.
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