quinta-feira, 24 de maio de 2012

A nova realidade

Começa agora a ouvir-se com maior frequência que, afinal, o nosso país é um país pobre, sem ouro e sem petróleo, razão pela qual não se pode pensar que é possível viver-se à rica e à francesa.

Após esta situação económica dramática se ter concretizado e instalado com carácter duradoiro, passando de "velho do Restelo" a uma realidade palpável, já se admite publicamente que é um "roubo de Estado" governar hipotecando os rendimentos das gerações futuras nos termos em que foi feito nas últimas décadas de governação.
Agora, que não há dinheiro para pagar os serviços mínimos, nem por parte do Estado, nem por parte de muitos portugueses, lá se vai deixando ficar a opinião de que muitos se aproveitam das benesses que os governantes vão dando tendo em vista o voto em eleições futuras, mesmo que com falsas declarações obtendo aquilo a que não teriam direito se prestassem as informações de forma correcta.
Mais. Agora que todo o nosso rendimento não chega para pagar a dívida e o esforço da dívida (entenda-se, juros que a mesma obriga a pagar), já se diz com convicção que não é possível ao Estado continuar a dar subsídios sem receber nada em troca e que a ideia dos direitos adquiridos ser algo de irreversível está totalmente ultrapassada.
Enfim. É caso para dizer que já não somos nós, políticos, dirigentes, intelectuais, simples trabalhadores, que definimos os traços de uma qualquer realidade, mas sim esta que se impõe a todos nós, mostrando-se tanto mais rebelde quanto mais a queiramos amarrar.

E é neste campo de ilusões, onde o que ontem era impensável, hoje já é realidade, que temos de nos mover, que tomar decisões, que agir em função de uma perspectiva, seja própria ou adoptada mas que, em qualquer caso, não sabemos se se concretizará.
Todas estas razões nos levarão a mudanças sociais que até há pouco tempo consideravamos, ou pelo menos muitos dirigentes políticos e sindicais consideravam ser inadmissíveis.
Talvez por isso se ouça falar também na necessidade dos governantes olharem para esta nossa realidade económica com a humildade necessária e que se impõe por forma a aliviar os sacrifícios a que estão sujeitos os portugueses na sua grande maioria.
De facto, não basta pensar nos muitos séculos de história do país, nas crises que já ultrapassou, nas revoluções que conseguiu ganhar, nos caminhos novos que apresentou ao mundo.
Necessário será usar todo o potencial humano tendo em vista o contributo individual e de todos na reconstrução social sempre inacabada, mas que só com o contributo sério e contínuo de todos poderá prosseguir no sentido que desejamos.

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