sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pensar Portugal

Creio que no meio desta ânsia forçada e cega de mudar, alterar, fechar, deveria a governação, em vez de lançar ensaios sem critérios, propor pensar o país como um todo, evitando erros sobre erros, má governação sobre má governação.
"Depressa e bem, há pouco quem, devagar e mal, é geral", já assim diz a sabedoria popular.
Aproveitando este saber que vai além das secretárias e dos gabinetes lisbonenses, que não se deixa guiar por qualquer mapa estrangeiro, que conhece os caminhos mais inóspitos do país real, deveria um governo nacional digno desse nome criar condições para que, de verdade, se fixassem pressupostos sérios e lógicos para uma reorganização geral do Estado e do território, pensada, reflectida, percebida e útil, capaz de proporcionar as melhores condições de vida possíveis num país que é pobre, que sempre esteve mal organizado, mas que caminha a passos largos para um maior empobrecimento geral com o abandono à sua sorte de grande parte da população que resiste à concentração metropolitana.
E, pensar o país, obrigaria a rentabilizar as infraestruturas já existentes, escalonando objectivos multidisciplinares, o mais abrangentes possível, partindo sempre, a meu ver, de um pressuposto indispensável: a capacidade de mobilidade da população.
E, esta capacidade de mobilidade, não reside só na capacidade física e económica de cada individuo ou família, mas sim, também na rede de infraestruturas existentes numa determinada área territorial.
Nessa medida, a mudança, a alteração, o encerramento de serviços, deverá ser analisada ao nível da interacção de diversos sectores, e não em conformidade com o debitar de uns tantos comentários ocos de conteúdo, por quem minutos antes pediu aos seus adjuntos que lhe dissessem o que deveria responder a esta ou àquela pergunta concreta sobre uma anunciada medida.
Assim, não vamos lá.
Sabemos que hoje o efémero é que conta. Aqueles segundos de fama em televisão valerão mais do que muitos livros escritos e organizados sobre qualquer assunto.
Mas que caracterização tem sido feita nas últimas dezenas de anos para reorganizar serviços públicos senão anunciar o encerramento de balcões?
O serviço via internet?
Sim. Um bom passo.
E para aqueles serviços que exigem a presença física de cada individuo?
Numa sociedade onde os serviços públicos essenciais são pagos pela cobrança de impostos, não pudemos pura e simplesmente dizer que tem de se implementar o sistema do utilizador pagador, com taxas de custo assustadoramente elevadas, tradutoras de verdadeiros impostos, e, depois gastar grande parte do valor dos impostos em subsídios a empresas que trabalham essencialmente para os centros metropolitanos e promover o abandono do interior do país como forma de o despovoar igualmente dos serviços públicos.
Reformar não passará por promover ou publicar alguns ensaios desgarrados da realidade e contraditórios entre si.
Quanto maiores forem os ataques às condições de vida do interior do país, pior Portugal teremos.

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