terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Em Manhã de Carnaval

Nesta manhã de terça feira de carnaval, dia normal de trabalho, segundo proclamou o Governo, um estranho silêncio permanecia no ar do centro da Vila de Castro Daire, apenas quebrado pelo suave ruído provocado pelo vento nos cartazes, faixas e panfletos estendidos e pendurados junto às escadas que descem do parque do tribunal e atravessam o jardim público.

Não fossem aquelas faixas e cartazes, símbolo de alguma festa, podia dizer alguém que não soubesse ler os seus dizeres, ou sinal da mais simbólica manifestação de rua ocorrida nos últimos tempos no concelho de Castro Daire, como disso tomará consciência qualquer cidadão deste país que por aqui passe um dia destes no gozo de alguns dias de férias, nenhum outro sinal de vida parecia emergir do centro desta terra.

Algo contraditório me pareceu.

O carnaval já não é o que era. Também já todos sabemos disso. Se era tradição para alguns, para outros nunca foi, pelo menos segundo consta dos discursos daqueles que mandam e podem decidir o que ou não é tradição.

E, assim se vai avançando neste século XXI no seio de uma sociedade que enfatiza direitos dos animais contra as tradições populares e esquece as pessoas vizinhas vitimas de qualquer situação anormal, seja de acto ilícito, seja de simples solidão, uma sociedade que procura forçar a redução da área populacional retirando serviços do interior do país, mas dizendo que vai investir no mar, uma sociedade que diz lamentar-se por estar a perder população por falta de natalidade mas aconselha os jovens a emigrar...,
Algo estranho se passa neste pequeno país onde para uns tudo parece florescer, enquanto outros apenas sentem rosas a cair.
Sinais dos tempos? Ou fruto das opções governativas tomadas sem rigor, sem reflexão nem consistência argumentativa?
Um dia destes, quando já não houver ninguém a habitar estes locais ermos, montanhosos e agrestes, ainda haverá tribunais que julguem quem de forma deliberada contribuiu para tal destino?
Ou haverá uma multidão a encher o peito de ar e a esgrimir argumentos para receber uma condecoração pela autoria de semelhante feito?
Creio que já nem o Carnaval se safa.

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