Após estes quase
quarenta anos de regime democrático no país, é legítimo perguntar
se permite o mesmo uma convivência prolongada entre um governo com
imagem forte e estável e uma oposição igualmente forte e estável.
E, vem esta ideia à
reflexão após os últimos acontecimentos na vida interna do Partido
Socialista, neste momento oposição.
É que, também em
virtude de ter sido o PS o partido que nos últimos anos se manteve
por longos períodos no governo, as crises internas partidárias
estavam até aqui associadas essencialmente ao PSD.
Na verdade, a
instabilidade partidária tem sido característica dos partidos
quando na oposição e, sobretudo, naqueles que, não estando no
governo, anseiam e têm expectativas de no curto prazo passarem a ser
governo.
Ora, com os últimos
acontecimentos no seio de PS sobre a marcação ou não de congresso
e de eleições para a liderança do partido nos próximos tempos,
verifica-se que também neste partido, pelo menos nesta altura, estão
instaladas duas tendências. Uma que defende a atual liderança e
outra que pretende ver esta liderança substituída.
Situação esta que
ocorre numa altura em que começam a ser menos definidos em termos de
bons ou maus os resultados das medidas tomadas pelo atual governo e,
consequentemente, qual o seu destino.
Isto é: Com a realização
do financiamento obtido no mercado como acontecera nos últimos dias,
o governo respirou de alívio, reafirmou o sucesso das suas medidas e
o PS tremeu quanto à certeza de ocorrerem eleições legislativas
nos próximos meses.
O que pode significar vir
a termos um governo de legislatura, cumprindo os seus quatro anos de
mandato, obrigando os socialistas a continuar na oposição ainda por
mais uns anos, quando, segundo as sondagens, se fossemos hoje a
votos, ganharia o PS.
Significa isto que um
governo capaz de governar na perspetiva de uma legislatura tende a
provocar crises no partido da oposição tendencialmente sua
alternativa, com queda de lideres que acabam por não se afirmar,
muitas vezes, sobretudo, pelo espreitar de terceiros ao lugar da
liderança e, habitualmente com o argumento de sempre: "Com esta
liderança não vamos lá".
Se isto acontece do lado
da oposição, é possível também dizer-se que uma liderança de
oposição com imagem forte e estável faz com que um governo que não
seja tão forte acabe por cair antes do seu prazo normal de vida pré
estabelecido - o da legislatura.
Facto este resultante
essencialmente da melhor imagem do líder da oposição capaz de
transmitir à população outra esperança que não o governo
constituído.
Aliás, resultado notório
desse cenário aconteceu com a derrube do governo do PSD pelo então
Presidente da República após o PS ter eleito como novo Secretário
Geral José Sócrates.
É caso para dizer que o
regime político em vigor associado à forma de pensar da nossa
sociedade e designadamente da "classe" política, impõe
que sucesso de um acarrete, inevitavelmente, o insucesso de outro.
Neste encruzilhar de
caminhos espera-se, ainda assim, que o objetivo seja um só: O
sucesso do país.
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