sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um ano após

Neste dia de Sexta Feira Santa, ainda feriado no país, de reflexão e preparação pascal para muitos e de trabalho normal para outros, faz um ano que Portugal, na eminência de incumprimento para com os seus credores, pediu ajuda financeira ao exterior.
Situação não inédita dizia-se, mas que desta vez viria a reflectir-se de forma muito mais dramática para grande parte da população, atendendo à maior degradação das contas públicas, traduzida, designadamente, no maior volume de dívida, no maior volume de prestações sociais concedidas pelo Estado e pela provável incapacidade de aumento das exportações, quer por falta de crédito às empresas, quer por também os países compradores dos nossos produtos estarem com problemas semelhantes.

E, durante este primeiro ano de auxilio financeiro, mas também de controlo das contas públicas por técnicos estrangeiros, algumas verdades sobre essas mesmas contas foram sendo reveladas, demonstrando elevados valores de dívida pública escondida da maioria dos portugueses pelos respectivos governantes e "gestores" públicos, assim como contratos públicos ruinosos para o erário público com pagamentos do Estado a empresas privadas ou maioritariamente privadas, de rendas elevadíssimas, em manifesto prejuízo de todos nós.
Um ano de controlo externo que veio colocar a descoberto aquilo que se sabia mas não se dizia.

Uma situação de manifesto desconforto e "vergonha" para quem sempre assumiu estar a gerir de forma correcta os recursos do país, certamente, como diz agora também o ex deputado Manuel Alegre, quem, apesar de tudo, nunca antes o vimos opor-se de forma decisiva contra as decisões que, inevitavelmente levariam a este desfecho.

Uma situação de desconforto e vergonha mas que ainda assim não é suficiente para acabar com algumas regalias de origem puramente política, como sejam as atribuídas aos ex presidentes da república, permitindo situações como a que nos últimos dias fez manchete com a multa por excesso de velocidade ao motorista do Dr Mário Soares, mostrando o alegado desagrado deste e um eventual desabafo sobre quem pagaria a multa...

Creio que verdadeiro excesso são as regalias que, na verdade, continua o Estado pedinte a pagar a alguns ex governantes, beneficiários da legislação que eles próprios fizeram aprovar.

Neste próximo ano de "ajustamento financeiro", de "programa", de "memorando", de "troika", de "gestão auxiliada", bem poderiam os nossos governantes pensar em alterar o próprio sistema político, reduzindo de forma significativa o número de cargos políticos e algumas regalias a ex políticos que delas não necessitam para manter um nível de vida confortável, assim como o regime contratual que permitiu o desembolso dos cofres do Estado de verbas que não traduzem efectivo custo de uma prestação de serviço.

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