sábado, 10 de julho de 2010

À Deriva

Neste país de ICs, IPs, AA, SCUTs, Vias Verdes, Ships, IMIs, IMTs, IRS, RIS, e outras muitas mais siglas que condicionam o dia a dia de todos nós, parece que tudo se assemelha cada vez mais com um barco à deriva do que a uma plataforma sólida capaz de aguentar as ondas que o mar, por vezes, junto à praia gosta de fazer.

Nesta fase em que o único objectivo de quem governa parece ser a caça ao rendimento dos que ainda trabalham, vale tudo e tudo é pouco para encher o buraco em que parece ter caído este país, apesar de ainda há poucos meses continuar a ser um jardim à beira mar plantado nos discursos governativos.

Hoje as dificuldades financeiras dominam tudo e todos, desde as grandes empresas às instituições sociais locais, de qualquer índole, como tem sido exemplo público o caso da Associação dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire.

Parecem ser muitos os problemas que afectam as instituições deste pequeno país, e não valerá a pena meter os olhos debaixo da areia nem tão pouco tentar pontapear a areia para atirar com a mesma aos olhos dos outros.

Creio que o essencial que havia a fazer não foi feito, antes pelo contrário.

Desde há muito que não temos planeamento estratégico. Não há organização e não se governa planeando. Os princípios que deveriam orientar a organização social rasgaram-se, criou-se a confusão, a deriva.

De facto, creio ser interessante reflectir nestes temas que apesar de aparentemente genéricos, abstractos, podem transpor-se para realidades mais concretas e próximas de nós.

Vejamos, a propósito desta última polémica vinda a publico relacionada com os Bombeiros Voluntários.

São muitas as opiniões, quer as expressas abertamente, quer as que acabam por não sair do íntimo de cada um.

Por um lado questiona-se se ainda há voluntariado, se o caminho a seguir é manter o voluntariado ou se este nome já nada mais é do que isso mesmo, um nome que dá cobertura a uma actividade remunerada e, consequentemente, profissional.

Como é sabido, não querendo generalizar, porque assim não acontece com todos, vários elementos do chamado corpo activo hoje são remunerados. Fazem daquela actividade a sua profissão.

E é legitimo questionar esta opção. Saber se tal actividade deve ser ou não remunerada, designadamente num período onde toda a acuidade governativa está virada para a descoberta de minas de euros.

Contudo, é a própria acção governativa, a organização social tal como está que é contraditória dando sinais de injustiça que levam a que seja, a todos os níveis, legitimo que quem presta um serviço de voluntariado seja remunerado.

De facto, se alguém que nada faz, como são os casos de quem recebe rendimento de inserção social (vulgo rendimento mínimo) atribuído muitas vezes sem se saber como, atribuído a um que mereceria menos do que o vizinho, ou talvez não, que faz a vida conhecida de todos, tem direito a receber mensalmente um cheque do Estado, porque é que quem desenvolve uma actividade social de voluntariado, muitas vezes, senão sempre, com elevado risco pessoal, de apoio a terceiros, não há-de ter direito a uma compensação Estatal?

Por isso, em minha opinião, o que falta é definir princípios orientadores da acção social capazes de alicerçarem politicas sociais justas e que pareçam justas aos olhos de todos.

Não vale a pena dizerem que temos um concelho atravessado por uma auto-estrada para nos imporem o fecho de escolas, ou o atendimento permanente ao nível da saúde ou dos serviços da justiça para depois virem impor-nos um pagamento pela utilização dessa infra-estrutura, ou dizerem hoje que vamos ter ambulâncias equipadas para prestar melhor socorros e no dia seguinte acabar o contrato com os técnicos prestadores do serviço, ou tão só não substituir a viatura quando esta precisar de ser substituída.

Governar, deveria ser, antes de tudo, gerir com coerência.

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