sábado, 19 de junho de 2010

A Estratégia de Lisboa

A actual politica de contínuo fecho de escolas primárias no interior do país é, a meu ver, apenas mais uma medida tirada de um saco escuro lisboeta onde há vários anos os governantes deste país vêm metendo, de forma desconexada, as reformas estruturais de Portugal.

Depois disso, a expectativa de cada vez que se houve falar em reformas, assemelha-se à resultante de uma qualquer rifa em que os palpites depois de misturados são deitados à sorte.

Fazem-se experiências sem um objectivo concreto e dado a conhecer à população interessada e visada com as ditas reformas, mais parecendo coelhos tirados da cartola. Alegam-se fundamentos, somam-se argumentos, mas a estratégia é única: reduzir os aglomerados populacionais rurais, concentrando a população portuguesa no menor número possível de aglomerados.

Isto é: acabar quanto antes com as aldeias do país.

Não valerá a pena queixarmo-nos de que esta medida ou aquela irá provocar maior despovoamento e desertificação do país, porque isso é sinal de que tal medida vai no sentido do objectivo final pretendido.

Se até ha pouco tempo atrás isso era tabu para o governo central, hoje deixou já de o ser. As aldeias dão prejuízo. Acabar com elas é a estratégia.

O fecho das escolas é, sem dúvida, o passo mais importante nesse sentido e apresenta-se dentro do espírito de fecho de urgências, fecho de maternidades, deslocação de distribuição dos CTT, de tribunais e outros serviços que, desde há alguns anos, as grandes empresas prestadoras de serviços públicos vêm fazendo numa lógica exclusiva de mercado.

De facto, quem quererá continuar a investir, fazendo a sua habitação, numa aldeia que se situe a dezenas de quilómetros de uma Vila onde não existam serviços mínimos?

Há uns tempos atrás pedia-se melhoramentos das condições de vida no interior do país. Gastaram-se milhões e milhões em infra-estruturas básicas. Para quem?

Porque autorizou o Governo esses gastos se a estratégia a médio prazo era acabar com esses aglomerados?

Teria sido preferido, além de mais honesto, dizer desde logo que a organização populacional passaria pela concentração em aglomerados maiores, de preferência em cidades e secundariamente em vilas, uma vez que a agricultura seria para abandonar, a floresta é incapaz de sustentar famílias, não havendo motivos económicos para manter pequenos e dispersos aglomerados.

Por isso, perante este cenário, não precisamos hoje de alcaides a nível local que procurem imitar os tiques governativos numa atitude de submissão à estratégia de Lisboa procurando convencer-nos do benefício das medidas dessa estratégia.

Precisamos é de pessoas que digam a verdade, que sejam capazes de definir objectivos, reunir consensos e vontades e, consequentemente, capazes de reorganizar, melhorando o concelho, conscientes de que a tarefa diz respeito a todos e é para ser realizada por todos.

Sem comentários:

Enviar um comentário