domingo, 27 de junho de 2010

Pré Campanha Presidencial

Ao entrarmos na segunda metade do ano, aproximam-se a passos largos as eleições para a Presidência da República.

Com dois candidatos já assumidos, um, claramente, carreirista politico, outro oriundo de fora da tradicional engrenagem partidária, espera-se que o actual Presidente, à semelhança do que tem acontecido desde Ramalho Eanes, venha também a recandidatar-se, preenchendo assim, se quisermos, a outra face da moeda já cunhada por Manuel Alegre.

A concretizar-se este cenário, apesar de poderem aparecer outros candidatos relativos a algumas franjas do eleitorado, repete-se mais do mesmo, sem grandes novidades, a não ser essa corajosa candidatura de Fernando Nobre que, sem experiência na área, se lança numa jornada difícil por terrenos já de si movediços e actualmente perigosamente deslizáveis.

A pergunta que, no entanto, todos fazemos é a de saber o que pode o país vir a ganhar (ou a perder) com este acto eleitoral.

Para quem tem defendido não ser preciso ao país tantos dirigentes eleitos directamente em sufrágio directo e universal, certamente que a resposta não pode ter grande significado nem relevância.

Pode mudar-se de estilo, manter-se-ão as mesmas consequências.

Curioso é tentar perceber porque é que tendo o país tão bons “governantes”, a fazer carreira desde o 25 de Abril, surgem repetidamente notícias dando conta de que a economia do país não avança, que todos os países europeus crescem mais do que Portugal, e, apesar disso, também, repetidamente, votarmos e elegermos esses mesmos “governantes”.

Nesta ocasião de inicio de pré campanha, surge de novo o Eurostat a dizer que Portugal está pior do que a Grécia e foi já “apanhado” por Malta.

Contudo, no discurso de abertura da sua pré-campanha Manuel Alegre vem acusar o actual Presidente por ter afirmado que a situação económica portuguesa é insustentável, de nada ter feito para evitar este cenário e que fora ele, Cavaco Silva, enquanto Primeiro Ministro, até 1995,quem contribuíra para esta situação do país com os seus governos virados para as obras públicas!

Mas quando Cavaco Silva era Primeiro Ministro, Manuel Alegre já era deputado, cargo que manteve repetidamente até às últimas eleições.

E que fez Manuel Alegre enquanto deputado para evitar que esta situação económica acontecesse ao país?

Não dispunha de informação privilegiada? Não esteve a exercer funções sempre pagas directamente pelos cofres do Estado? Não lhe competia ajudar a fazer leis capazes de evitarem o descaminho que a nossa economia levou? Não foram os Governos Socialistas desde António Guterres que começaram a esbanjar dinheiro por votos?

Como recentemente defendia Pedro Oliveira, Prof. Universitário, num artigo de jornal, “dificilmente poderemos tomar decisões certas com base em informação errada ou enviesada”.

Parece-me que alguns politicos continuam a preferir dirigirem-se ao eleitorado com simples e barata demagogia em vez de darem os esclarecimentos devidos a quem os elege, receando, por certo, que informação correcta não cative votos.

Se não servir para mais nada, bem poderia a campanha politica que se avizinha servir para os políticos candidatos esclarecerem com sinceridade o que sabem sobre o real estado da situação económica do país e quais as suas ideias que julgam poder contribuir para ajudar esta máquina emperrada a funcionar a fim de permitirem também aos portugueses uma decisão esclarecida.

sábado, 19 de junho de 2010

A Estratégia de Lisboa

A actual politica de contínuo fecho de escolas primárias no interior do país é, a meu ver, apenas mais uma medida tirada de um saco escuro lisboeta onde há vários anos os governantes deste país vêm metendo, de forma desconexada, as reformas estruturais de Portugal.

Depois disso, a expectativa de cada vez que se houve falar em reformas, assemelha-se à resultante de uma qualquer rifa em que os palpites depois de misturados são deitados à sorte.

Fazem-se experiências sem um objectivo concreto e dado a conhecer à população interessada e visada com as ditas reformas, mais parecendo coelhos tirados da cartola. Alegam-se fundamentos, somam-se argumentos, mas a estratégia é única: reduzir os aglomerados populacionais rurais, concentrando a população portuguesa no menor número possível de aglomerados.

Isto é: acabar quanto antes com as aldeias do país.

Não valerá a pena queixarmo-nos de que esta medida ou aquela irá provocar maior despovoamento e desertificação do país, porque isso é sinal de que tal medida vai no sentido do objectivo final pretendido.

Se até ha pouco tempo atrás isso era tabu para o governo central, hoje deixou já de o ser. As aldeias dão prejuízo. Acabar com elas é a estratégia.

O fecho das escolas é, sem dúvida, o passo mais importante nesse sentido e apresenta-se dentro do espírito de fecho de urgências, fecho de maternidades, deslocação de distribuição dos CTT, de tribunais e outros serviços que, desde há alguns anos, as grandes empresas prestadoras de serviços públicos vêm fazendo numa lógica exclusiva de mercado.

De facto, quem quererá continuar a investir, fazendo a sua habitação, numa aldeia que se situe a dezenas de quilómetros de uma Vila onde não existam serviços mínimos?

Há uns tempos atrás pedia-se melhoramentos das condições de vida no interior do país. Gastaram-se milhões e milhões em infra-estruturas básicas. Para quem?

Porque autorizou o Governo esses gastos se a estratégia a médio prazo era acabar com esses aglomerados?

Teria sido preferido, além de mais honesto, dizer desde logo que a organização populacional passaria pela concentração em aglomerados maiores, de preferência em cidades e secundariamente em vilas, uma vez que a agricultura seria para abandonar, a floresta é incapaz de sustentar famílias, não havendo motivos económicos para manter pequenos e dispersos aglomerados.

Por isso, perante este cenário, não precisamos hoje de alcaides a nível local que procurem imitar os tiques governativos numa atitude de submissão à estratégia de Lisboa procurando convencer-nos do benefício das medidas dessa estratégia.

Precisamos é de pessoas que digam a verdade, que sejam capazes de definir objectivos, reunir consensos e vontades e, consequentemente, capazes de reorganizar, melhorando o concelho, conscientes de que a tarefa diz respeito a todos e é para ser realizada por todos.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

10 de Junho

Dia de Portugal

Comemorar o dia de Portugal é, forçosamente, incentivar a coesão nacional. O orgulho de ser português, o relembrar a capacidades que os portugueses outrora tiveram para alcançarem importantes vitórias.

Em época de forte crise económica maior é a necessidade desse incentivo à união nacional, ao patriotismo que deve caracterizar um povo em defesa dos seus ideais e dos seus objectivos comuns.

Na verdade, se reflectirmos um pouco sobre o nosso dia a dia, parece que o espírito de identidade nacional deixou de existir dando lugar a uma constante guerra de facções, como se tivéssemos dividido o povo português em três ou quatro grupos que procuram, cada um por seu lado, sacrificar os demais.

Mais parece estarmos em campanha eleitoral diária onde o que vale é conquistar mais uns tantos apoios independentemente dos métodos utilizados para os obter, na tentativa de tornar duradoira a efémera ilusão do poder.

Creio que é tempo de mudar.

O nosso país precisa de estabilidade em torno de objectivos comuns a favor de todos e não só em proveito de alguns.

E o primeiro objectivo a fixar deveria passar pela alteração da atitude politica típica, deixando de ser genericamente maniqueísta e jactante para ser essencialmente de agregação e desempenho de serviço público por quem tivesse dado provas de ser capaz no âmbito da sua actividade profissional.

Por isso, pensar o Dia de Portugal, deveria ser pensar também as alterações necessárias que se impõem ao sistema político português.

Ora, será que precisamos de um Presidente da República eleito directamente pelo povo quando a Assembleia da República também é eleita directamente pelos mesmos eleitores?

E deverá o órgão legislativo continuar a ser constituído exclusivamente por cidadãos eleitos directamente em listas partidárias?

Porque não alterar a composição desse órgão de modo a que a legislação mais estruturante da sociedade portuguesa fosse reflectida e aprovada por outros elementos que não apenas os eleitos como deputados?

Creio que precisamos de começar a pensar mais Portugal como um objectivo comum, um país que é o nosso e para todos nós e não como um ringue que sirva apenas para uma qualquer disputa entre dois indivíduos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Desacerto da mesma rasa

No fecho das escolas

Olhar para o interior do país e aplicar-lhe o mesmo critério que se pretende aplicar nos centros urbanos é um disparate total, apesar de, aparentemente, ser justificado com a melhor oferta de instalações e equipamentos aos alunos.

Será legitimo exigir a uma criança de seis anos que se levante todos os dias às seis horas da manhã para ir à escola que fica situada a vinte ou trinta quilómetros de distância da sua residência e regressar ao fim do dia sem voltar a ver os seus pais?

Haverá nessa mudança de escola acréscimo de formação ou perda de formação individual de cada criança?

Todos sabemos que esta proposta não é inocente e visa, essencialmente, satisfazer critérios económicos de resultados duvidosos.

Isto porque, se não queremos hoje salas de aulas com menos de 20 alunos, para quantos alunos estão dimensionados os novos centros?

Funcionará um novo centro escolar com apenas 25 ou 30 alunos? Ou será exigido um mínimo de 90 a 120 alunos?

Mas, mesmo com esse número de alunos, economicamente saíra mais barato manter em funcionamento um desses centros em vez de 2 ou 3 escolas periféricas com instalações melhoradas e adequadas às chamadas “novas exigências”?

E qual é a tendência de evolução demográfica, por exemplo, no nosso concelho e nas freguesias mais afastadas do centro?

Quantos anos estarão tais centros a funcionar, com excepção dos criados nas Vilas?

Se daqui a uns anos a zona do Vale do Paiva não tiver crianças em número suficiente para manter em funcionamento um centro escolar serão para lá conduzidas crianças doutras áreas do concelho ou virão as que houver para Castro Daire?

Estou em crer que o próximo passo será a criação de residências para crianças nos centros urbanos onde frequentarão centros educativos, as quais verão os pais apenas aos fins de semana.

Mas será que essas crianças vão ter pais? Será esse o caminho certo para a formação e educação das crianças do interior do país?

Creio que os concelhos do interior estão uma vez mais empurrados para a construção de elefantes brancos que daqui a uns anos estarão completamente abandonados.

Mas, neste país onde o planeamento a médio prazo foi deitado fora há muito e as medidas surgem como que por inspiração de quem chega ao poder pela primeira vez num ímpeto de que nada será como dantes, tudo se faz e desfaz, se ordena e desordena, se manda e desmanda.

Castro Daire, a meu ver, precisaria, não de centros educativos para inglês ver, mas de escolas com instalações capazes de agrupar dentro da maior proximidade possível, olhando em concreto às distâncias e ao tipo de estrada a percorrer, assim como a possíveis novas estradas a abrir ou a requalificar,

Não manter em funcionamento uma dessas escolas na zona norte do concelho é um erro estratégico.

Os autarcas não devem ser só uma extensão do poder central.
O que se está a fazer com a educação revela a pobreza de espírito dos nossos governantes fechados em gabinetes com ar condicionado e que odeiam pó, água, frio e calor.