terça-feira, 30 de setembro de 2014

Prometer reduzir cargos políticos não rende votos


Parece ser contraditório, mas a verdade é que apesar dos cidadãos normalmente dizerem que temos um regime político com cargos a mais, designadamente ao nível dos deputados à Assembleia da República, quando algum político avança com uma ideia tendente a concretizar a redução dos mesmos, acabará por ver o partido tirar-lhe o tapete.
 
Exemplo disso parece ter sido o resultado das eleições internas no PS ao revelar uma extraordinária falta de apoio a António José Seguro apesar deste ter lançado como um dos temas de campanha uma proposta de reduzir o número de deputados à Assembleia da Republica e por via disso a redução da despesa pública.
 
Certamente, dirão muitos que essa não foi a razão deste resultado, mas sim outras que estiveram subjacentes a toda esta situação partidária que levou à convocação destas eleições internas, não estando à data lançada qualquer proposta nesse sentido pelo então Secretário Geral.
 
É verdade.

Mas o curioso é que todos, e foram muitos, os que estavam contra esta iniciativa imediatamente vieram a público criticar a mesma, muitas vezes falando em nome dos outros, dos pequenos partidos, como se o seu interesse fossem os deputados dos outros partidos e não os seus próprios lugares.

São vários os argumentos que para o povo se vão lançando como se tal proposta promovesse a redução na representatividade, a redução da democracia, etc, etc....

Mas, afinal, qual é a representatividade que um individuo de Lisboa eleito por um circulo eleitoral do interior do país tem quando nem sequer conhece a área e os problemas sociais desse circulo eleitoral?
 
Qual é a representatividade social de uma lista de deputados escolhidos pelo aparelho partidário de entre políticos de carreira que nada mais fazem senão passear nos corredores dos diversos organismos políticos?
 
Será este tipo de organização política o único capaz de satisfazer os requisitos da democracia em Portugal?
 
Não me parece.

Aquilo que continuamos a ver é que neste país são muitos os que vivem à sombra de qualquer coisa, servindo para dar apoio aos que os acolhem, numa espécie de troca de favores em que um apoia o outro, sem qualquer lógica de interesse público.

E, num sistema como este, acaba o sector público /político por ser o grande suporte de mão de obra paga com os impostos cobrados a todos os cidadãos, reduzindo a capacidade de iniciativa privada com regimes laborais desproporcionais onde o investidor / empregador é tido como o lobo mau, com as consequências à vista de todos nós.

Assim, não sendo da iniciativa dos titulares dos cargos políticos a revisão do sistema político que além de possível é necessária, não restará outra alternativa aos cidadãos senão provocar, pelo menos, a mudança dos titulares.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Exemplos da mediocridade da governança que nós temos


 
Hoje, 15 de Setembro de 2014 começa a nível nacional o novo ano escolar tendo como sinal característico dos últimos anos o fecho de mais umas centenas de escolas.

Esta ideia de fechar escolas do ensino básico, ex escolas primárias, símbolo que foram de uma vontade governativa de levar a educação à população que se queria que povoasse o interior do país, começou por ter uma tendência inversa devido à falta de crianças nas aldeias do interior do país, mas rapidamente passou a uma política de desestruturação de todo o tecido escolar básico do país.

Começou-se à experiência a fechar as escolas que tivessem poucos alunos, não se justificando, de facto, que um professor tivesse de dar aulas a apenas um ou dois alunos.

Mas a par disso, criando expectativas de que o novo número mínimo de alunos por escola fixado se ira manter obrigaram-se as autarquias a fazer obras nas escolas de acolhimento.

No ano seguinte, alterando o objectivo inicial, fixou-se novo mínimo de alunos e fecharam-se mais umas tantas escolas, incluindo algumas daquelas que sofreram obras de requalificação para acolherem alunos vindos de outras aldeias, levando a requalificar as que ficavam abertas para acolher ainda mais alunos.

Mas, não ficando por aí, a seguir fixou-se novamente um outro número mínimo de alunos por escola e acenou-se, então, às autarquias com dinheiro para construirem novos centros educativos capazes de acolherem dezenas e dezenas de alunos, senão mesmo centenas de alunos!

Todos os municípios, ou quase todos, embandeiraram desde logo como objectivo político, a construção de vários centros educativos, com ou sem justificação, porque o que importava era fazer obra que enchesse o olho e esvaziasse os cofres do município.

Contudo, feitos os centros educativos, porque agora o número mínimo de alunos por escola já vai nos 21, não sabendo eu porque não hão-de ser 22, 25 ou 30, começam já esses fabulosos sorvedores de dinheiros públicos a fechar por falta de crianças.

Hoje, neste começo de novo ano escolar surge como mais um exemplo destes: O encerramento da escola básica da aldeia de Monsanto no concelho de Idanha a Nova requalificada este ano com obras que custaram cem mil euros, tendo sido inaugurada em Junho e tendo estado a funcionar apenas uma semana até ao fim do ano escolar, já não reabrindo hoje!

Os alunos a que se destinava vão agora percorrer diariamente cinquenta quilómetros para irem aprender a ler e a escrever!

Não sei quantos Centros Educativos já fecharam ou estão em vias de fechar.

Mas quem responde por este esbanjamento de dinheiros públicos gastos apenas em virtude de decisões governativas desgarradas de qualquer política de planeamento e estudo prévio que esclarecesse e apontasse uma evolução coerente a médio prazo das necessidades de infraestruturas educativas?

E que critérios são para manter sobre o que deve ser e como funcionar o ensino básico?

Porque não há-de haver na lei a previsão de responsabilidade pessoal dos políticos que tomam tais decisões manifestamente irresponsáveis, casuísticas, esbanjadoras dos dinheiros públicos que tanta falta faz à população, postas em prática de forma inesperada, sem qualquer fundamento num plano previamente ponderado, aprovado e conhecido de todos?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Estranha Reforma


Após uma semana do inicio do novo ano judicial, a confusão está instalada no sistema judiciário.

Há regras em vigor sobre a entrega de requerimentos e documentos aos processos, mas o meio de entrega previsto por lei (electrónico) não funciona, o Ministério da Justiça não reconhece o não funcionamento e os prazos correm alheios a tudo isso!

Após uma semana ainda não se sabem quais os novos números atribuídos aos processos pendentes, nem se sabe a que juiz ou juízo foram atribuídos, para que no envio de requerimentos se possa identificar a quem se dirige esse mesmo requerimento.

Numa altura em que a economia continua mergulhada numa situação de verdadeira recessão, de cobrança desenfreada de impostos, esta reforma que inicialmente se impunha como medida para reduzir despesa pública, está a absorver a cada dia que passa elevadas somas de dinheiros públicos para assegurar instalações que não eram necessárias, serviços que não eram necessários e despesas ocasionadas com a mobilidade de funcionários que não eram necessárias nem fazem qualquer sentido, além de aumentos de diversos ordenados com a promoção de funcionários a novos cargos antes não existentes.

Afinal, uma reforma que em vez de economizar esbanja dinheiro público, em vez de simplificar o funcionamento do sistema complica esse funcionamento e acesso ao mesmo, em vez de criar melhores condições de trabalho aumenta a precariedade das condições de trabalho que existiam.

Tudo isso sem se saber ao certo porquê, a não ser o resultado mais visível até hoje que foi o de encerrar diversos tribunais nas localidades do interior do país onde a mobilidade das pessoas é cada vez menor.

Neste momento todos os agentes do sistema judiciário estão preocupados com o desenrolar dos acontecimentos, desde juízes a funcionários dos tribunais, apenas parecendo que só o Governo e a Assembleia da República não sentem essa preocupação.

De facto, se esta medida foi implementada por este Governo, apesar da ideia original não ser dele, em verdade, se não fosse a seu gosto podia tê-la alterado, melhorando-a substancialmente ou pura e simplesmente abandonando-a.

Contudo, sabe-se que com um ou outro pormenor, os partidos da governação em Portugal têm todos o mesmo sentido de orientação: reduzir serviços públicos no interior do país, desertificar, reduzir o povoamento, concentrar a população em três ou quatro pontos do país!

Por isso, não gastem o latim com desculpas da Troika, nem o nosso dinheiro com medidas totalmente incongruentes, injustificadas e lesivas dos interesses colectivos de cada comunidade.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

No Silêncio Castrense


Em pleno Agosto, dias 12 e 13, o exército português, sem chaimites, sem armas em punho, sem capitães, sem cravos nem rosas, apenas com camiões e o apoio discreto da GNR e por ordem do Governo, deu apoio logístico a outra revolução: retirou os processos e o mobiliário do tribunal judicial de Castro Daire, transportando tudo para Viseu, à semelhança do que fez com outros tribunais situados em localidades do interior do país.

A tudo isto assistimos com a maior tranquilidade e serenidade, num total silêncio que já nos é característico, vá-se-lá saber porquê, quando assistimos, acto após acto, à retirada dos serviços públicos que já estiveram em funcionamento na sede deste concelho.

Desta forma, dando algum trabalho a um sector cuja justificação para existir é cada vez menor no país atendendo às funções que lhe têm sido atribuídas e à capacidade militar portuguesa, mas cujo Orçamento do Estado, ou seja, nós, sustenta(mos), lá esvaziou o Governo, como prometera, o tribunal de Castro Daire outrora construído ali bem perto do também antigo pelourinho, símbolo também ele de outros tempos, de outros hábitos e costumes, de outra forma de aplicar a justiça.

Exemplo de que o povo já não é quem mais ordena, se é que alguma vez foi, é este. Certamente, um mau exemplo de governação, exemplo de que não se governa este país tendo em vista o povo e o território, mas sim grupos económicos cujos interesses se sobrepõem à necessidade e ao dever de governar em favor de todos.

Exemplo dos tempos que correm, ou tão só continuação daquilo que sempre foi o exercício do poder ao longo dos tempos.

O Tribunal outrora construído e apetrechado pelo Governo de então, foi agora esvaziado de conteúdo e de funções pelo actual Governo, parecendo ter até apoio de muitos sectores da sociedade para esse efeito, designadamente locais, que parecem ver neste acto apenas prejuízos para alguns profissionais do ramo instalados na localidade.

Mentalidades que, na verdade, talvez justifiquem o nosso silêncio, esta atitude de pensar ser bom para mim o que não o for para um outro qualquer.

Talvez por isso os nossos vizinhos ficaram, para já, com os seus tribunais. Castro Daire vai queixar-se para Viseu.

Não era este tipo de evolução social que eu, pessoalmente, gostava de ver concretizar-se neste pobre concelho do interior do país. Mas, como em tudo, é a maioria nacional que decide e as minorias locais que sofrem.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Fim de ano judicial



Termina este ano judicial de 2014 de forma atípica. Com uma manifestação de advogados e outros cidadãos junto à Assembleia da República no dia de amanhã, 15 de Julho, contra a pseudo reforma da justiça que este Governo está a implementar no interior do país.

Já muito se escreveu sobre esta alegada reforma, já vimos a Srª Ministra da Justiça defender esta reforma com a alegação de que há tribunais que já nem têm juiz a tempo inteiro, que não têm processos, que não se justificam estar abertos.

Mas, finalizado o processo de alteração do mapa judiciário, que é a mesma coisa do que dizer o mapa que sinaliza quais os tribunais que fecham e os que ficam reduzidos a nada, alguns dos ditos tribunais que nem juiz a tempo inteiro têm ficam abertos como actualmente acontece e com as funções que hoje têm, outros que têm trabalho diário, com diligências marcadas quase em todos os dias da semana, muitas vezes sem sala para permitir vídeo-conferências com testemunhas que necessitam de prestar o seu depoimento em processos que correm noutros tribunais, como é o caso do de Castro Daire, fecham ou ficam reduzidos a nada.

Um país que se dá ao luxo de tratar os tribunais como uma simples repartição publica, que ora fecha, ora abre, sem lhe reconhecer qualquer simbologia nacional, seja em termos de organização social, cultural e principalmente ao nível do sentimento da segurança pela presença do tribunal / símbolo da justiça na localidade sede da sua vida administrativa, está, na verdade a sofrer uma grande revolução na forma da sua organização.

Temos um pequeno país visto em termos de grandes estruturas, tal como os tantas vezes chamados elefantes brancos, que quando se constroem se projectam com dimensões exorbitantes sem atender à realidade acabam depois por abandonados, símbolos do desperdício financeiro, da má gestão dos recursos públicos, do endividamento, questão que agora tão premente se tornou.

Mas se os problemas da morosidade da justiça em Portugal estivessem na falta desta dita reforma, se os problemas das eventuais "más decisões" estivessem na falta desta dita reforma, se os problemas do não recurso aos tribunais por muitos dos que se sentem injustiçados estivessem na falta desta dita reforma, se o problema da dívida portuguesa estivesse na falta desta reforma, eu, enquanto advogado, diria sim.

Mas, infelizmente, não são esses os objectivos desta dita reforma, como já se teve ocasião de dizer.

Em minha opinião, esta será a pior alteração à organização judiciária feita por um governo nos últimos tempos.

Não resolve os problemas das populações, nem das que ficam sem tribunal, nem daquelas para onde os serviços desse tribunal irão ser transferidos, acrescentando morosidade nos tribunais de chegada, e dificuldade de acesso ao tribunal pelas populações das áreas que ficam sem ele.

Não resolve o problema das eventuais "más decisões", uma vez que o decidir com saber fazer dependerá sempre e cada vez mais da organização e formação dos Srs Juizes e não do facto de estarem num tribunal de Vila ou de Cidade.

A apregoada especialização não tem de estar relacionada com o espaço, com o edifício, mas sim com a organização judiciária, com a pessoa, com o Sr Juiz, com quem decide, nada impedindo, a meu ver, que, no mesmo tribunal, para cada tipo de questão fosse um diferente juiz a decidir.

Na verdade, qual seria a dificuldade em estes tribunais verem aí deslocar-se, por exemplo, um juiz para julgar os processos crimes e um outro juiz para julgar os processos cíveis?

Mas, também não resolve os problemas financeiros do país, porque a mesma trará mais despesas com a necessária criação ou melhoria das estruturas de acolhimento existentes, nem deixará de ter de pagar ordenados aos Srs magistrados e funcionários públicos.

Mesmo que alguns políticos o pensem, esta alteração não atinge os advogados, atinge, sim, as populações.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Eleições


As europeias

Aproximam-se a passos largos as próximas eleições europeias.

Parece-nos algo estranho onde as campanhas eleitorais já pouco dizem, seja por novidades não terem e por verdades não dizerem.

É mais um ritual de um regime que continua a dizer-se ser o melhor, é certo, mas que por instalado e acrítico, continua cada vez mais afastado da atenção e do carinho do povo eleitor.

Um dia eleitoral que para muitos talvez nem seja lembrado como tal, passando despercebido face aos seus problemas e afazeres do dia a dia, num país em que tudo parece ser feito ao contrário do que se anuncia.

De útil, estas próximas eleições talvez tenham algo para os candidatos que vierem a ser eleitos, em face dos diferentes rendimentos de que irão beneficiar, assim como pela experiência nova, para aqueles que o for, de fazer política fora do país, num círculo multifacetado, seja de culturas e vivências, seja de forma de encarar a economia do dia a dia.

Nesse círculo, onde chegam de todos os países integrantes da UE e de todos os quadrantes políticos, onde cada um é eleito pelo país e não pelo distrito ou concelho, certamente que será possível ver de outro modo a forma da evolução económica do país de origem e dos vizinhos, permitindo comparar diferentes perspectivas de encarar e de executar o desenvolvimento individual e coletivo.

Eleições estas que coincidem, estou certo disso, com um momento em que muitos portugueses que se deêm ao trabalho de ir votar o farão com um forte cruzamento de sentimentos perante esse acto de assinalar uma cruz num boletim de voto.

O único acto e momento, aliás, em que o tal povo soberano o é.

Uma soberania instantânea, algo que tão de repente chega e se vai, num abrir e fechar de olhos, para depois disso não ter volta a trás, arrependimento ou correcção.

Mas são as regras, as regras que o povo soberano tem de cumprir, porque nisto de votar ou não votar, não há promessas, não há contratos, não há compromissos, não há palavra. Há sim propaganda, folclore e nalguns casos intimidação.

Mas, se o povo é soberano, devia sê-lo no acto de votar e na competência para exigir um plano de governação e para fazer cumprir esse mesmo plano.

Não sei se será por aí que a democracia alguma vez queira evoluir, porque como está estará melhor para quem lá está.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O Adeus



Sentença Final? Ou admitirá recurso?

Organização ou desorganização social?

Prosseguindo uma alegada reorganização dos serviços públicos, mas sem qualquer princípio orientador, este governo acaba de obter a publicação do Decreto Lei nº 49/2014 que prevê o fim do funcionamento do tribunal de Castro Daire e de muitos outros tribunais de comarca como eram conhecidos até hoje.

Com esta lei a secção de proximidade em que foi transformado o tribunal de Castro Daire não tem a virtualidade de poder albergar a realização de audiências de julgamento.

Todos os processos da área de Castro Daire passarão a correr nas instalações do tribunal de Viseu.

Porque esta nova orgânica tem a sua entrada em funcionamento prevista para o dia 1 de Setembro próximo, resta ao tribunal de Castro Daire um período paliativo até meados de Julho!

E, sob a capa da poupança, sacrificam-se as populações do interior do país, forçando-as a migrar e emigrar para outros locais.

A visão lisboeta de que o país não é mais do que Lisboa e arredores tem vindo a ganhar força em todos os quadrantes políticos, sendo esta medida legislativa a mais cruel concretização do abandono que os governos votaram as populações do interior.

Poderá haver quem considere um exagero o que digo. Certamente que o defenderão com sinceridade. Mas, não creio terem razão.

Numa época de crise económica, num território pobre do interior do país, onde grande parte da população é idosa e vive de reformas de sobrevivência, ou não sendo idosa vive de actividades agrícolas sem qualquer rentabilidade, ou então do rendimento social de inserção, onde os serviços públicos de transporte não existem, afastar-lhes o local de exercício do direito à justiça várias dezenas de quilómetros é, a meu ver, mais um virar as costas por parte do poder em relação a uma das funções públicas que ao Estado cabe assegurar.

E se esta medida tivesse na sua génese um objetivo de poupança de dinheiros públicos, talvez pudesse, ainda assim, encontrar alguma explicação. Mas nem isso tem. Com esta medida, pelo menos a curto prazo, os gastos públicos serão bem maiores.

Por isso, esta medida é mais uma medida dum pacote de medidas que têm transformado grande parte da sociedade portuguesa de uma população rural, agrícola e pobre, numa população suburbana, muito pobre, totalmente dependente de subsídios estatais e da caridade alheia.

Não mereceria o país uma outra visão governativa que tivesse como objetivo evitar essa grande quantidade de gente suburbana que vive da caridade dos outros favorecendo-lhes a deslocação para o interior do país com medidas de auxilio na concretização de novos trabalhos?

O que é que ficará mais "caro" ao Estado e à sociedade: Um interior com serviços públicos eficazes, mas com vida, mesmo que subsidiada, ou grandes áreas suburbanas sem quaisquer condições de vida com enormes aglomerados de famílias totalmente desempregadas vivendo igualmente subsidiadas pelo Estado e da caridade de terceiros?

Que modelo social nós queremos?

Que modelo social seria preferível mesmo numa situação económica difícil?

Que sociedade é esta em que os objetivos são fechar e cortar?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Contentamento


"Castro Daire contente"

Bem poderia ser um slogan a dar jeito político a muitos que elevados ao estatuto de líderes necessitam de águas pouco agitadas para não darem nas vistas quanto são maus nadadores.

De facto, bastou a Srª Ministra da Justiça vir dizer que o Tribunal de Castro Daire fica com um "balcão de atendimento" para que muitos festejassem, abrissem garrafas de espumante, pedissem ou aceitassem entrevistas, mostrando o seu agradecimento por uma medida completamente oca de sentido e de significado.

Em "conversa de café" disse já que esse balcão bem pode passar a funcionar na Câmara ou noutro qualquer edifício de serviços públicos, enquanto também eles não encerrarem, ou então até mesmo noutro qualquer escritório de serviços jurídicos (enquanto os houver) no âmbito de um acordo com o ministério da justiça, bastando para tanto ter um computador com acesso à plataforma que gere os processos judiciais.

Mas, irremediavelmente, tal decisão fecha o Tribunal, diga-se o que se disser, mesmo que, esporadicamente, por ventura, um julgamento fosse feito nestas instalações.

Vários autarcas e comunidades por esse país fora têm manifestado publicamente o seu repúdio a tal medida, anunciando iniciativas diversas contra a mesma.
 
Para nós parece estar tudo bem.


Por outro lado, se há uns anos atrás havia uns "fiscais de obras" por conta própria na vila de Castro Daire lamentando-se e criticando, algumas vezes com razão, o mau acabamento das obras de pavimentação realizadas no centro da vila, passados uns pares de anos parece que tudo acabou em bem, apesar de agora se verem ainda algumas das situações antigas por resolver e outras novas ainda piores do que as anteriores.

Mas, porque o cheiro é de primavera, não importa.

Assim, quando se faz algo não em virtude do interesse do vizinho mas apenas do próprio, como é costume dizer-se, logo que o nosso interesse esteja atendido tudo o resto pouco vale, estará bem.

Neste ambiente de contentamento Castro Daire festeja, celebra mais um dia do autarca, mas mantém estradas municipais principais com buracos e mais buracos, mantém a nacional nº 2 no lugar da Soalheira estrangulada, não faz obras que antes reclamava como prioritárias, etc, etc.


Claro que tudo isto, o que não for bom, é por culpa dos outros, dir-se-á.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Para o Pós Troika



Sem qualquer justificação digna desse nome, este governo deu início a algumas medidas apelidadas de reformas estruturais com o argumento de que eram impostas pela troika, mas vai a troika embora e só depois vem a concretização de parte dessas medidas.

Refiro-me em concreto à redução das juntas de freguesia, assim como à redução dos serviços públicos, como é exemplo o encerramento de alguns tribunais.

Sem querer manifestar uma opinião discordante por ser apenas discordante, a verdade é que nenhuma razão séria foi até hoje apresentada como justificativa de tais medidas.

No entanto, tais medidas servem para criar dificuldades às pessoas, aos cidadãos portugueses, dificultando-lhes o acesso aos serviços públicos, agravando, essencialmente, esse acesso àqueles que de menos meios dispõe já para aceder aos mesmos.

E, se a redução aleatória do número de juntas de freguesia se concretizou ainda em tempos de troika, o encerramento de alguns tribunais do interior do país foi-se arrastando e será concretizado já em tempos pós troika.

A notícia agora é de que esse encerramento se concretizará até às férias judiciais de verão, de modo a que em Setembro, na reabertura do ano judicial, já não existam os tribunais de comarca a que estamos habituados.

Sabendo, em virtude da profissão, como funcionam os tribunais, questiono-me qual a razão desta medida.

-Financeira?

-Não me parece que seja, uma vez que os processos que se preveem existir continuarão a existir, necessitando de juízes, funcionários e de espaço para serem processados.

Qualquer redução de custos que daí advenha não terá qualquer relevância seja para que efeitos for.

-Judiciária?

-Não me parece. Ouvindo a Srª ministra parece que das suas palavras resulta que apenas nos grandes centros urbanos há justiça, que apenas nos grandes tribunais os processos correm, que apenas nos grandes tribunais há juízes capazes de bem decidir e de forma rápida.

Não é verdade. Nos grandes centros urbanos é onde a justiça teima em ser mais lenta e, consequentemente, menos justa.

O país não pode ser olhado, também ao nível da justiça, apenas pelas estatísticas de Lisboa e Porto. Criar um país judiciário à semelhança de Lisboa e do Porto é um erro histórico, é um desrespeito absoluto pelas populações locais, onde não há os meios de transporte que nos grandes centros existe, inexistindo qualquer rede de transportes públicos capaz de ligar as populações das novas grandes comarcas, como nem todas as pessoas possuem transporte particular que lhes permita a mobilidade que uma qualquer grande cidade possui.

Organizar Portugal a partir de Lisboa é algo impensável para qualquer pessoa minimamente conhecedora do país e possuidora de algum bom senso.

Fechar serviços públicos apenas para agradar à troika ou a qualquer outro organismo estrangeiro é não ter capacidade para governar, pelo que o primeiro passo digno a dar deveria ser a recusa do exercício de tais funções.

O interior do país não precisa de ter os serviços públicos ao pé de casa. Mas precisa de ter serviços públicos.

Ou será que um serviço público só funciona bem quando tem filas de espera desde o dia anterior e que no momento da abertura da porta de imediato dão um número máximo de senhas para atendimento e mandam as demais pessoas embora para que voltem no dia seguinte a fim de nessa próxima vez poderem obter senha para atendimento?

Ora, das duas uma: ou o serviço é relevante e necessário e deve funcionar atempadamente, ou não é relevante e necessário e então feche-se, desburocratize-se. Simplifique-se o que não tem de ser complexo.

Mas, pelo que vamos percebendo, se um dia a presença da troika foi esperança de alguma mudança estrutural no país, durante a sua permanência muito se falou e justificou, mas pouco se mudou.