Ano após ano, a marca
deste país durante o verão tem sido, sistematicamente, calor e
incêndios florestais cada vez maiores e cada vez mais ameaçadores
dos locais de habitação, sejam pequenas aldeias, sejam vilas ou até
mesmo cidades.
Bem sabemos os fatores
que propiciam este dramático quadro, por vezes trágico, ou mesmo
cada vez mais trágico, para famílias, proprietários, operacionais,
ambiente e até para a economia do país.
Contudo, olhando ao lado
da produção, assistimos à tomada de opções governamentais pela
plantação de mais eucaliptos, mais resinosas, autênticos materiais
incandescentes com as temperaturas que cada vez mais altas se fazem
sentir.
Esquecendo-se a
impossibilidade prática de limpeza capaz dos terrenos arborizados,
até porque, como se costuma dizer, no verão até a terra arde,
bastando olhar para a queima de cada vez mais áreas cultivadas,
continua a assistir-se apenas, ano após ano, numa política de
reação, à contratação milionária de mais meios de combate aos
incêndios.
Mas, perante este cenário
que, com toda a certeza, vai piorar ano após ano (veja-se o caso da
Madeira), não seriam de pensar a sério outras políticas
florestais?
Sabemos que o interior do
país tem sido abandonado em termos de governação ao longo dos
tempos, permitindo apenas que sobreviva à custa de muitos
sacrifícios de quem opta por não se juntar aos grandes centros
urbanos.
Seria caso para perguntar
se tal abandono faria parte de alguma estratégia de governação
para o país, se, na verdade, houvesse alguma estratégia governativa
para todo o país.
E, se para muitos acabar
com as aldeias é necessário para o desenvolvimento do país, não
se alcança o que poderá vir a ser a economia deste país, sem
produção própria, sem riquezas de subsolo à vista e sem qualquer
oásis que possa provocar o interesse dos estrangeiros em grau
suficiente para a sustentar.
Ainda é verdade que as
áreas arborizadas continuam a ter relevo na economia nacional,
designadamente na área da indústria do papel e, daí a opção por
árvores de crescimento rápido como o eucalipto.
Mas não deveriam essas
áreas ser definidas e delimitadas, estrategicamente localizadas e,
por outro lado, orientadas muitas das políticas despesistas para a
proteção aos aglomerados urbanos?
Sabemos que já muita
legislação foi produzida sobre o assunto, parte dela revogada
depois sem que sequer entrasse em vigor. Mas legislação por si só
não apaga incêndios nem evita que eles se propaguem.
São precisas novas
práticas, medidas concretas que evitem que todo o interior passe a
ser mato, giestas e silvas.
Estamos, este ano, em
campanha eleitoral autárquica. Não vi ainda nenhum candidato expor
o que pensa sobre este assunto, fosse nos cartazes que se vêem
espalhados ao longo do país, fosse em papel escrito distribuído aos
eleitores.
Sabemos não ser tarefa
fácil inverter esta tendência. Mas é preciso tomar medidas,
executar práticas preventivas concretas, investir no antes e não só
no depois.