Nesta cada vez mais velha
e frágil Europa onde nos encontramos, a qual gostaríamos que fosse
como uma só nação, é interessante apreciar e refletir sobre os
resultados eleitorais das últimas eleições legislativas de
Itália.
Talvez porque o resultado
das mesmas tenha efeitos colaterais noutros países como o nosso,
talvez pela situação de ingovernabilidade criada com o resultado
obtido, talvez por alguma semelhança que nos possa parecer existir
entre estes resultados e outras votações noutros países.
Dois dados surgem,
seguramente, destacados na votação feita pelo povo italiano:
O primeiro, é que não
gostaram do governo liderado por um credenciado técnico chamado à
governação numa fase difícil da economia europeia e da economia
italiana, Mário Monti, o qual, submetendo-se a sufrágio, ficou em
quarto lugar nas preferências do eleitorado.
O segundo, é que é
possível a um comediante conhecido obter grande fatia dos votos,
senão mesmo uma larga maioria dos votos num acto eleitoral destinado
a escolher um novo governo do país.
Nós, de fora, podemos
olhar para este resultado com alguma indiferença, quer por pensarmos
que não nos diz respeito, quer por pensarmos que no nosso país não
seria possível.
Mas, não creio que assim
seja.
Estes dois dados traduzem
uma realidade bem presente no nosso dia a dia.
A desconfiança nos
governantes, designadamente nos que procuram colocar um travão no
despesismo público incontrolado, por mais sérios que sejam, por
mais currículos invejáveis que apresentem, e a crença naqueles
que, desconhecedores das condições de governação, prometem o
possível e o impossível, o correto e o incorreto, fazem e repetem
ofertas, mesmo sem qualquer prova de credibilidade dada, desempenhem
eles funções de comediantes, de palhaços, de atores, ou outras,
sejam eles analfabetos ou letrados.
E, da
desconfiança nos políticos caseiros à desconfiança do exterior na
capacidade de governação interna vai um pequeníssimo passo, com
efeitos devastadores num conjunto de países super endividados,
geridos continuadamente em função do voto, sem soluções
económicas e financeiras, já hipotecados a outras economias e a
algumas multinacionais que sem respeitar um conjunto de regras tontas
por cá tidas por dogmáticas, impõem-nos a sua produção, perante
a felicidade dos governantes europeus.
Sinais
de uma degradação social e económica que só com muito sacrifício
será invertida, cujas consequências serão ainda difíceis de
prever.
Por
ora, diz-se, é o descrédito das chamadas elites, porque as mesmas
já não são o que eram. Um comediante anima-as e supera-as.