Sendo eu natural de Mões, uma das
maiores freguesias do concelho de Castro Daire, com diversas
povoações, posso dizer que me causou alguma estranheza a existência
de freguesias constituídas por uma única povoação e, em alguns
casos, mais pequena do que uma só aldeia desta freguesia.
Por essa razão posso dizer não me
causar grande perplexidade a ideia de juntar diversas freguesias mais
pequenas criando freguesias maiores.
Mas, dito isto, e fazendo aqui uma
referência a algumas soluções de agrupamento que já foram
apresentadas na Assembleia Municipal de Castro Daire e que considero
bastante interessantes, fará sentido esta proposta de reforma
administrativa do país a começar pelas freguesias que o governo
pretende implementar ?
Tenho dúvidas.
Segundo dados hoje lançados para a comunicação social por pessoa ligada à Associação Nacional de Freguesias, pretende o governo com esta "reforma" extinguir cerca de mil freguesias o que poderá permitir, no máximo, uma poupança de cerca de seis milhões de euros.
Isto significaria que o gasto médio
com cada uma das freguesias a extinguir rondaria os seis mil euros
anuais, estando assim calculado, se quisermos, o efeito orçamental
ou económico da medida.
Mas, independentemente disso, tanto
mais que o governo já se apressou a dizer que esta reforma não tem
como causa a obtenção de uma poupança com as transferências de
verbas a atribuir às freguesias, creio é que se trata de uma
reforma sem substância, para alemães verem, desprovida de qualquer
convicção política e sem qualquer previsão em termos de
consequências, quer sociais, quer económicas.
Assim, sob a capa de "reforma"
pretende-se apenas fechar mais uns tantos serviços publicos /
sociais ao nível do interior do país, sem qualquer efeito
orçamental, mas dificultando, nalguns casos a vivência das pessoas
atendendo, designadamente, à falta de um sistema de transportes
públicos que, por mais mínimo que seja, permita a mobilidade básica
às populações.
Isto porque, se a questão é
orçamental, facilmente se obteria esse objectivo reduzindo ou até
mesmo acabando com as verbas que são atribuídas aos membros
eleitos integrantes dos órgãos representativos das freguesias,
assim como reduzindo também o número de eleitos para esses órgãos.
Isto é: Antes mesmo de acabar com mais
ou menos umas dezenas ou centenas de freguesias, importante seria
alterar a actual lei eleitoral autárquica, totalmente desajustada
como está às realidades locais e sociais que atravessam o país.
E, antes mesmo de acabar com
freguesias, que de acordo com a lei que enquadra esta "reforma"
não permite o agrupamento de freguesias de concelhos diferentes,
seria o momento para definir uma estratégia de reforma no âmbito
dos municípios, a fim se se perceber numa lógica de longo prazo, se
há ou não necessidade de agrupar e extinguir municípios, por forma
a que, ao nível das freguesias fosse possível o agrupamento de
povoações que embora localizadas em municípios diferentes têm
grandes afinidades e vivências sociais comuns.
Além disso, antes de qualquer uma
destas alterações territoriais, uma vez que apenas disso se trata,
seria necessário repensar o papel das autarquias locais, definindo
de forma clara as competências das freguesias e dos municípios,
assim como os seus recursos próprios, de modo a que quem se
candidatar a qualquer uma dessas autarquias saiba com o que pode
contar, com o que lhe compete fazer e o que tem ao seu dispor para
gerir, sem estar dependente das decisões, opções ou gostos de
qualquer outro órgão estranho a essa mesma autarquia.
Naturalmente que partindo destes
pressupostos bem poderíamos chegar à conclusão de que não seria
de reduzir o número de freguesias em mil, mas sim em dois mil, que
teria de haver alteração ao nível das áreas de alguns municípios,
levando eventualmente à extinção de alguns.
Mas, como tem sido notório neste país, as anunciadas, aplaudidas e apelidadas "reformas" avançam ou recuam ciclicamente, quer por falta de coragem política, quer por falta de critérios que permitam a sua compreensão social, apenas se tendo mantido como fio condutor, a intenção e a prática de encerramento de serviços.
Por este andar, um dia destes não fará
sentido que este país exista.
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