Parece ser contraditório, mas a verdade é que apesar dos cidadãos normalmente dizerem que temos um regime político com cargos a mais, designadamente ao nível dos deputados à Assembleia da República, quando algum político avança com uma ideia tendente a concretizar a redução dos mesmos, acabará por ver o partido tirar-lhe o tapete.
Exemplo disso parece ter
sido o resultado das eleições internas no PS ao revelar uma
extraordinária falta de apoio a António José Seguro apesar deste
ter lançado como um dos temas de campanha uma proposta de reduzir o
número de deputados à Assembleia da Republica e por via disso a
redução da despesa pública.
Certamente, dirão muitos
que essa não foi a razão deste resultado, mas sim outras que
estiveram subjacentes a toda esta situação partidária que levou à
convocação destas eleições internas, não estando à data lançada
qualquer proposta nesse sentido pelo então Secretário Geral.
É verdade.
Mas o curioso é que
todos, e foram muitos, os que estavam contra esta iniciativa
imediatamente vieram a público criticar a mesma, muitas vezes
falando em nome dos outros, dos pequenos partidos, como se o
seu interesse fossem os deputados dos outros partidos e não os seus
próprios lugares.
São vários os
argumentos que para o povo se vão lançando como se tal proposta
promovesse a redução na representatividade, a redução da
democracia, etc, etc....
Mas, afinal, qual é a
representatividade que um individuo de Lisboa eleito por um circulo
eleitoral do interior do país tem quando nem sequer conhece a área
e os problemas sociais desse circulo eleitoral?
Qual é a
representatividade social de uma lista de deputados escolhidos pelo
aparelho partidário de entre políticos de carreira que nada mais
fazem senão passear nos corredores dos diversos organismos
políticos?
Será este tipo de
organização política o único capaz de satisfazer os requisitos da
democracia em Portugal?
Não me parece.
Aquilo que continuamos a
ver é que neste país são muitos os que vivem à sombra de qualquer
coisa, servindo para dar apoio aos que os acolhem, numa espécie de
troca de favores em que um apoia o outro, sem qualquer lógica
de interesse público.
E, num sistema como este,
acaba o sector público /político por ser o grande suporte de mão
de obra paga com os impostos cobrados a todos os cidadãos, reduzindo
a capacidade de iniciativa privada com regimes laborais
desproporcionais onde o investidor / empregador é tido como o lobo
mau, com as consequências à vista de todos nós.
Assim, não sendo da
iniciativa dos titulares dos cargos políticos a revisão do sistema
político que além de possível é necessária, não restará outra alternativa aos cidadãos senão provocar, pelo menos, a mudança dos titulares.