Num tempo de incertezas
Nós,
povo, temos assistido, mais ou menos impávidos e serenos,
à atuação dos nossos políticos eleitos sob a condição de serem
os mais capazes de resolver os problemas que os outros, os que
estiveram antes, criaram.
E
assim tem acontecido sucessivamente, em alternância institucional,
ora tu, ora eu, tal como se se tratasse de um simples andar,
caminhando, usando um pé a cada passo, demonstrando a necessidade
dos dois, o da esquerda e o da direita, mas, porque sujeitos ao mesmo
sistema nervoso, ambos prosseguindo o mesmo percurso.
E,
tal como nessa caminhada, lá vamos colocando no poder, o que melhor
julgamos para o momento certo, mas que, irremediavelmente, a seguir
consideramos já não ser, mais ainda, que a seguir consideramos ter
sido uma escolha errada e que, por isso, queremos emendar, para a
seguir considerarmos que esta nova escolha foi errada e que por isso
mesmo voltamos a emendar.
E, o
que assistimos diariamente àqueles que foram eleitos para exercer os
mais altos cargos da nação, não passa na maior parte das vezes de
intriga, birras, puros jogos partidários com total menosprezo pelos
eleitores, cidadãos anónimos que são cada vez mais súbditos de
príncipes que necessitam do aparelho partidário como de pão para a
boca.
Outrora,
é certo, considerou-se a política como a ciência do governo das
nações, a arte de bem governar, como ainda se pode ler nos
dicionários.
Contudo,
o que hoje podemos verificar é que só o exercício de cargos
políticos é que não exigem a apresentação de qualquer currículum
vitae, podendo entregar-se a governação a qualquer indicação
partidária, independentemente do motivo da escolha.
Nos
debates políticos, todos se apresentam como tendo o especial dom da
sabedoria que o povo precisa, no entanto, a medida a que recorrem,
dia após dia, quase invariavelmente, é aumentar as taxas dos
impostos e dos serviços públicos, como se essa medida já não
tivesse sido usada pelos seus antecessores, contra a qual estiveram!
No
entanto, não reduzem o número de deputados, os quais já nem as
leis redigem, segundo se diz, não reduzem o número de motoristas e
viaturas ao seu dispor, não reduzem o número de assessores
políticos que existem para tudo e para nada, não reduzem o número
de vereadores e outros cargos políticos nas autarquias.
Não.
Isso não.
Mas
somos nós que pagamos os erros de governação, aqueles que garantem
certas rentabilidades a meia dúzia de grupos económicos a que
estamos sujeitos, os verdadeiros governantes do país, que colocam e
destituem políticos, tornando a área da governação política na
antecâmara da governação económica.
E,
assim, ganhe quem ganhar, façam-se as eleições que se fizerem, os
verdadeiros vencedores serão sempre os mesmos, embora pelo palco
passem ora uns, ora outros.
No
entanto, o frenesim das eleições é cada vez maior. E se não há
eleições, uns fazem greves, outros amuam.
Por enquanto não se espera nova revolução. Mantemos os cravos de sempre e os disparates governativos que nos tiram o fundo de maneio para outras flores.