domingo, 28 de outubro de 2012

Ainda não é Janeiro


Ainda não é Janeiro, nem está frio de rachar, mas parece que todos se uniram para nos tramar.
 
Não é cantiga, nem é refrão, não é de Rui Veloso, mas de Vitor Gaspar, a receita que nos espera em Janeiro, de frio a tiritar, de ventos fortes e um sol de pasmar.
 
Num país em que a introdução de portagens nas autoestradas aumentou a dívida do Estado (de cada contribuinte) para com as construtoras em vez de as diminuir, onde a produção de energia eólica serviu para aumentar o preço da fatura da eletricidade em vez de a diminuir, onde a construção de novas barragens continuará a fazer aumentar a fatura elétrica de cada um de nós, onde a introdução da TDT foi momento para uma grande empresa fazer negócio à custa dos portugueses, mas também onde os Centros de Saúde fecham, os Tribunais encerram, precisaremos de mais o quê?
 
Pagar mais impostos, é claro; mais taxas, mais serviços, para que haja dinheiro para grandes orçamentos dos órgãos políticos, quer a nível nacional, quer a nível local, a fim de puderem gastar sem critério e sem necessidade, como se ainda fossemos ricos...
 
Por este andar, um dia destes, quando não houver mais empresas para fechar, quando os elevados juros devidos aos estrangeiros pouco interessarem por já não fazer sentido ter preocupações com juros face à total incapacidade do seu pagamento, assim como ao volume de juros já pagos, um governante qualquer virá dizer que estamos a inverter a tendência, que a economia vai começar a crescer, que todos podemos continuar a descansar...
 
Um dia pensei que criar riqueza implicava trabalhar. A certa altura fui confrontado com as políticas ativas portuguesa e europeia de que ter rendimento era sinónimo de deixar de trabalhar, nada fazer, deixar que os outros fizessem.
 
Apesar de incrédulo, essa era a prática política que passou a eleger governantes. Uns após outros.
 
E, os bons princípios que até podem ter estado na origem de alguns programas sociais, depressa derraparam para nova política de dar a quem nada fizer.
 
Agora, não nos apontam o caminho do trabalho, do esforço físico e mental, mas sim da cobrança, da entrega, como se o rendimento que em primeiro lugar deve pertencer a quem realiza alguma coisa, pertencesse a quem governa!
 
A partir de quando é que deixamos de ter uma democracia e passamos a ter uma ditadura fiscal?
 
Porque tem de ser o memorando da troika observado como se de nova "biblia" se tratasse e qualquer desvio ao mesmo como um "pecado mortal"?
 
É certo que o recurso ao medo já começou a ser utilizado como a última arma governativa.
 
Mas terá esse método efeitos num mundo do conhecimento?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um desassossego

 
Neste desassossego caído e onde os dirigentes deste "melhor povo do mundo" pareciam acreditar não existir, tudo parece desenraizar-se.
 
A escola que se anuncia para todos será cada vez para menos,
 
A saúde que se diz ser o maior bem a preservar, descuida-se,
 
O emprego que todos dizem ser o motor da economia, abate-se.
 
Os rendimentos de quem trabalha confiscam-se.
 
Tudo isto, diz-se, é em prol da capacidade de obtenção de condições de financiamento externo desta nossa economia a fim de evitar que tudo o que produzimos seja gasto em pagamento de juros aos credores externos.
 
Ignorância dos governantes que nos conduziram a esta situação?
 
Impreparação?
Má-fé?
Condicionantes do sistema político em vigor?
Culpa, parece ninguém ter.
 
E, assim, foi uma, foram duas, foram três e mais vezes em que o espectro da banca rota bateu à porta deste pobre país, mas sem emenda.
 
É caso para repensar esta forma de organização política, senão mesmo o regime.
Suspender regras de funcionamento, colocando-se a gerir esta frágil organização económica quem não estiver pressionado pelo número de votos, que tenha a sensibilidade social necessária e experiência de vida suficiente para perceber quais os modelos económicos que se ajustam a esta realidade e quais os que apenas a maltratam.
 
Talvez uma heresia para alguns, necessidade para outros, mas experiências que outros povos, tão democráticos quanto nós, já fizeram e estão ainda a fazer, como o caso de Itália.
 
É que, com estes resultados é caso para refletir de novo porque é que antigamente eram os mais velhos que governavam as suas comunidades.
 
Pois, se necessário for, coloque-se uma idade mínima como condição necessária para poder exercer-se cargos políticos.
Não seria novidade alguma.
Hoje essa regra já existe para a Presidência da República. Porque não também para os governantes e deputados?