Ainda não é Janeiro, nem está frio
de rachar, mas parece que todos se uniram para nos tramar.
Não é cantiga, nem é refrão, não é
de Rui Veloso, mas de Vitor Gaspar, a receita que nos espera em
Janeiro, de frio a tiritar, de ventos fortes e um sol de pasmar.
Num país em que a introdução de
portagens nas autoestradas aumentou a dívida do Estado (de cada
contribuinte) para com as construtoras em vez de as diminuir, onde a
produção de energia eólica serviu para aumentar o preço da fatura
da eletricidade em vez de a diminuir, onde a construção de novas
barragens continuará a fazer aumentar a fatura elétrica de cada um
de nós, onde a introdução da TDT foi momento para uma grande
empresa fazer negócio à custa dos portugueses, mas também onde os
Centros de Saúde fecham, os Tribunais encerram, precisaremos de mais
o quê?
Pagar mais impostos, é claro; mais
taxas, mais serviços, para que haja dinheiro para grandes orçamentos
dos órgãos políticos, quer a nível nacional, quer a nível local, a fim de puderem gastar sem critério e sem necessidade, como se ainda
fossemos ricos...
Por este andar, um dia destes, quando
não houver mais empresas para fechar, quando os elevados juros
devidos aos estrangeiros pouco interessarem por já não fazer
sentido ter preocupações com juros face à total incapacidade do
seu pagamento, assim como ao volume de juros já pagos, um governante
qualquer virá dizer que estamos a inverter a tendência, que a
economia vai começar a crescer, que todos podemos continuar a
descansar...
Um dia pensei que criar riqueza
implicava trabalhar. A certa altura fui confrontado com as políticas
ativas portuguesa e europeia de que ter rendimento era sinónimo de
deixar de trabalhar, nada fazer, deixar que os outros fizessem.
Apesar de incrédulo, essa era a
prática política que passou a eleger governantes. Uns após outros.
E, os bons princípios que até podem
ter estado na origem de alguns programas sociais, depressa derraparam
para nova política de dar a quem nada fizer.
Agora, não nos apontam o caminho do
trabalho, do esforço físico e mental, mas sim da cobrança, da
entrega, como se o rendimento que em primeiro lugar deve pertencer a
quem realiza alguma coisa, pertencesse a quem governa!
A partir de quando é que deixamos de
ter uma democracia e passamos a ter uma ditadura fiscal?
Porque tem de ser o memorando da troika
observado como se de nova "biblia" se tratasse e qualquer
desvio ao mesmo como um "pecado mortal"?
É certo que o recurso ao medo já
começou a ser utilizado como a última arma governativa.
Mas terá esse método efeitos num
mundo do conhecimento?