O tempo que não se escolhe.
De Cabril a Almofala, de Gosende a Mões, a última primavera que por toda a árvore castrense se estendeu, em vez de fazer florir, dando rosas e bons aromas, depressa desapareceu, deixando as folhas cair, num sinal de outono e inverno precipitados, como se verão não houvesse, ainda mesmo sem a rosa abrir, ficando os montes escurecidos, queimados, ressequidos, por um vil fogo ateado ardidos.
Cabeça oca, mente malvada esta, que a enxada colocou à sesta, a mesa fez à sombra e pão mandou servir, sem antes cuidar do campo de onde o mesmo havia de vir.
Satisfeito e saciado, já tal mesa não lhe servia, nem a sombra o acolhia, cansado da rotina, deita pés ao caminho na esperança de que logo ali ao lado algo ainda melhor o esperava.
E, num pensamento extravagante, pronto como viajante, apressa-se a ir ao som do vento cantante, tudo deixando para trás, qual forma de vida desprezível e descartável.
Fora adiante, tonto e embriagado, sem razão ou outro motivo que não o desejo de novos encantos prometidos, repetidamente badalados, do sino da igreja, do altifalante sonoro, ou ao ouvido soprados.
Tudo seria melhor. Tudo seria fácil. Tudo estaria acessível a todos quantos acreditassem. Era simples, tornou-se mágico, era só ouvir, crer, dar e confiar.
Mas, chegada a primavera, com grande festa recebida, as flores não desabrocharam, as folhas enrolaram e, depressa, criando bicho no seu interior, mau cheiro começaram a exalar, caindo apodrecidas, num chão enlameado pelo aguaceiro que, teimosamente, permaneceu sobre este lugar.
Sem pão e ao frio, num inverno doentio, mil vezes rogou pelo tempo em que a mesa à sombra colocada o já não satisfazia, mas de nada lhe valeu. Clamou por todos quantos em coro à sua porta antes apareceram e de promessas encantadoras os ouvidos lhe encheram. Mas ninguém o socorreu.
Triste Primavera que não deu lugar ao verão, o outono antecipou e o inverno prolongou.
Por vezes costuma ouvir dizer-se, em tom de desabafo, que se nós mandássemos no tempo….
Que seria? Que faríamos com ele? Seriamos capazes de o gerir da forma mais conveniente?
Sem comentários:
Enviar um comentário