Em pleno Agosto, dias 12
e 13, o exército português, sem chaimites,
sem armas em punho, sem capitães, sem cravos nem rosas, apenas com
camiões e o apoio discreto da GNR e por ordem do Governo, deu apoio
logístico a outra revolução: retirou os processos e o mobiliário
do tribunal judicial de Castro Daire, transportando tudo para Viseu,
à semelhança do que fez com outros tribunais situados em
localidades do interior do país.
A tudo isto assistimos
com a maior tranquilidade e serenidade, num total silêncio que já
nos é característico, vá-se-lá saber porquê, quando assistimos,
acto após acto, à retirada dos serviços públicos que já
estiveram em funcionamento na sede deste concelho.
Desta forma, dando algum
trabalho a um sector cuja justificação para existir é cada vez
menor no país atendendo às funções que lhe têm sido atribuídas
e à capacidade militar portuguesa, mas cujo Orçamento do Estado, ou
seja, nós, sustenta(mos), lá esvaziou o Governo, como prometera,
o tribunal de Castro Daire outrora construído ali bem perto do
também antigo pelourinho, símbolo
também ele de outros tempos, de outros hábitos e costumes, de outra
forma de aplicar a justiça.
Exemplo de que o povo já
não é quem mais ordena, se é que alguma vez foi, é este.
Certamente, um mau exemplo de governação, exemplo de que não se
governa este país tendo em vista o povo e o território, mas sim
grupos económicos cujos interesses se sobrepõem à necessidade e ao
dever de governar em favor de todos.
Exemplo dos tempos que
correm, ou tão só continuação daquilo que sempre foi o exercício
do poder ao longo dos tempos.
O Tribunal outrora
construído e apetrechado pelo Governo de então, foi agora esvaziado
de conteúdo e de funções pelo actual Governo, parecendo ter até
apoio de muitos sectores da sociedade para esse efeito,
designadamente locais, que parecem ver neste acto apenas prejuízos
para alguns profissionais do ramo instalados na localidade.
Mentalidades que, na
verdade, talvez justifiquem o nosso silêncio, esta atitude de pensar
ser bom para mim o que não o for para um outro qualquer.
Talvez por isso os nossos
vizinhos ficaram, para já, com os seus tribunais. Castro Daire vai
queixar-se para Viseu.
Não era este tipo de
evolução social que eu, pessoalmente, gostava de ver concretizar-se
neste pobre concelho do interior do país. Mas, como em tudo, é a
maioria nacional que decide e as minorias locais que
sofrem.